Pedro Maziero é o resenhista prodígio do site literário "Sobre Livros" e que também demonstrou seus talentos culinários na resenha cheia de tempero sobre nosso "Dragões de Titânia - A Batalha de Argos". Só faltou o Louro José! Bora´ler?
__________RESENHA__________
Pedro Maziero
Pedro Maziero
"Hoje venho lhes falar sobre um excelente livro: A Batalha de Argos, primeiro volume da série Os Dragões de Titânia, do brasileiríssimo Renato Rodrigues. Antes de qualquer coisa — e aqui aproveito para pedir perdão pela breguice que estará impregnada nesta resenha todinha —, acho justo tratarmos do ingrediente essencial na receita de qualquer sucesso: a história.A trama em questão tem como base a luta do povo de Argos pela liberdade da ilha. Ilha esta que, sendo um “pequeno pedaço de rocha dentro do grandioso Império de Titânia”, encontra-se sob o domínio de um tirano desavergonhado conhecido como Barão. Ilha esta que, reconhecida por ter o preconceito contra seres não humanos enraizado em seus nativos, ironicamente, encontra em um anão o símbolo da revolução contra as injustiças e a exploração que lhes são infligidas. Não em um anão solitário, é verdade, mas sim acompanhado por elfos, magos, guerreiros, senhoritas religiosas e até mesmo centuriões beberrões!Uma das personagens principais morre logo no início do livro. Não fiquem bravinhos, não é spoiler! (Bom, talvez até seja, mas como é já no primeiro capítulo, eu não acho que tenha estragado a experiência de vocês nem nada. Relaxem e não tentem me matar virtualmente, por favor.) Acontece que se descobre que essa tal elfa que morreu é, na verdade, uma espécie de princesa, e precisa ser velada e sepultada dignamente, na terra dos elfos. E é pra lá que uma parte do grupo de “rebeldes” parte. A outra, se dirige à capital do Império, a fim de tentar conseguir o apoio do Imperador na empreitada de acabar com a raça do Barão. É uma premissa bem bacana, né?Mas uma história cheia de potencial não é garantia de um sucesso. Nem mesmo se vier acompanhada por personagens carismáticos, um toque de mistério e muita ação. Nada disso é, necessariamente, o suficiente. Para que essa mistura realmente dê resultado, é necessário que o autor escreva de forma a fazer com que todos os elementos se integrem, interajam entre si… É necessário — e aqui reitero meu pedido de perdão pela breguice, que agora atinge níveis nunca antes observados nesta galáxia — que o autor escreva de forma a “dar liga” nessa mistura. Caso contrário, meus amigos, a massa, seja lá do que for, porque eu confesso não ter a mínima ideia do que estamos cozinhando aqui, ficará ruim. Realmente ruim.Não sou adepto a comparações, mas devo dizer que a narrativa de Renato Rodrigues me lembrou, de certa forma, a de Lemony Snicket, autor de “Desventuras em série”. Isso porque ambas são fortemente caracterizadas pelo tom intimista em que a história é contada. Literalmente contada, eu diria. É como se o livro fosse meio que uma conversa entre dois grandes amigos: o autor e o leitor. Renato tece comentários a respeito dos acontecimentos, confidencia-nos segredos, volta ao passado quando considera necessário… Tudo isso contribui para a criação de uma atmosfera extremamente favorável quando se trata de nos sentirmos parte da história.Ainda no ingrediente “narrativa”, é importante destacar o uso de humor durante o livro todo. O autor diz ter descoberto seus maiores talentos no mundo editorial, principalmente na criação de livros de humor. Não é o caso de A Batalha de Argos. Este é um livro de aventura, de fantasia, e não de humor. Porém, é claro, isso não impede que haja várias passagens engraçadas durante a história, uma piadinha aqui, outra acolá. Sem exagero, tudo muito natural, o que acaba por tornar a leitura ainda mais agradável.— Ei, Khosta? Acorde, magrelo!Ouviu apenas um “shhhh”, o pedido de silêncio universal. Acho que todos os povos civilizados entendem o significado de “shhh”. Menos os adolescentes.Resumindo, meus amigos, acho que se Renato Rodrigues fosse para a cozinha, descobriria ser um cozinheiro de mãos cheias.No entanto, nem tudo são rosas. Este não é bem um ingrediente, mas com certeza exerce uma certa influência sobre o resultado final: o forno.Muitas coisas passaram despercebidas na revisão. São errinhos bobos, até mesmo irrelevantes, mas tão recorrentes que acabam irritando um pouco. É realmente uma pena que a Editora Escala tenha negligenciado uma parte tão importante da edição, já que, em outros aspectos, podemos considerar o livro impecável: conta com uma capa lindíssima e diagramação caprichada, além de algumas ilustrações maravilhosas assinadas por Carolina Mylius. É inevitável que eu me pergunte se isso tem alguma relação com o fato de o segundo volume da série, A Queda do César, — a ser lançado na Bienal de São Paulo —, sair de um outro forno, digo, por uma outra editora: a Linhas Tortas.(Linhas. Tortas. Tortas. Comida. Assada. Forno. Sacaram? O universo conspira a favor da minha piadinha infame de relacionar o processo de escrita de um livro com o preparo de uma massa. A culpa é do universo — ou seria das estrelas?).Enfim, tentativas frustradas de ser engraçado à parte, eu realmente recomendo A Batalha de Argos para quem aprecia uma boa história de aventura, bastante leve e divertida. Aproveito para deixar uma dica, também: o autor estará na Bienal durante alguns dias, então quem estiver por lá terá a chance de bater um papinho com ele e ainda levar um autógrafo de brinde. Quer mais?"
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